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quinta-feira, 16 de junho de 2022

A tragédia brasileira

Bruno e Dom

Nas mãos de Bolsonaro e de todos os que o apoiam, o Brasil tornou-se uma terra de ignomínia e morte. O sacrifício indisível  de Bruno e Dom põe na ordem do dia da sociedade uma tarefa inadiável: escorraçar do governo os agentes dessa tragédia

Onde estamos nós?
Angela Pappiani (Outras Palavras)

Há mãos que violentam corpos e almas insurgentes. Mas, por trás delas, existem cabeças que vivem bem distantes do inferno amazônico. É preciso desmascará-las também. Vivemos em guerra. Bruno e Dom decidiram de qual lado estar (continue a leitura).


Com a tragédia de Dom e Bruno, um limite foi ultrapassado na Amazônia - a nós que estamos vivos só cabe a luta

Eliane Brum (IHU)


Até os organismos mais primários têm instinto de sobrevivência. Faço aqui um apelo ao instinto de sobrevivência de cada um. Tudo o que estamos fazendo não é suficiente. É hora de fazer não apenas o que sabemos, mas o que não sabemos. Não apenas por altruísmo ou por compaixão pelos que tombam. Mas pela vida. A guerra da Amazônia é a guerra deste tempo. A guerra da Amazônia é a guerra contra os comedores de planeta. Coube a nós, que ainda estamos vivos, travar essa guerra. Que tenhamos vergonha na cara e lutemos (continue a leitura).

Sumiço e selvageria política 
João Biehi
(piauí)

Ao ouvir a notícia alarmante de que o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira desapareceram numa área remota da Floresta Amazônica no domingo, 5 de junho, reabri imediatamente a mensagem de WhatsApp que Dom havia me enviado apenas três semanas antes. Estávamos em comunicação desde o outono de 2019, quando o Brazil LAB, uma iniciativa interdisciplinar da Universidade de Princeton, organizou uma conferência explorando uma nova visão para salvaguardar a Amazônia para o Brasil e para o planeta. É preciso lembrar sempre que, nos últimos cinquenta anos, 20% da Floresta Tropical brasileira já foram perdidos para a extração ilegal de madeira, para a pecuária e para megaincêndios. Dom ficou intrigado com o inovador modelo climático que meus colegas Stephen Pacala e Elena Shevliakova desenvolveram, simulando o que aconteceria com o clima do mundo até 2050 caso a Amazônia fosse desmatada completamente (continue a leitura).


terça-feira, 14 de junho de 2022

Nossa 'pobre' burguesia e o déficit liberal

O lumpen*  empresariado

Considerações sobre as eleições de 2022 e o ileberalismo dos librais brasileiro

Artigo de Leonardo Avritzer (A Terra é redonda)

O episódio envolvendo o cancelamento pela corretora XP, um dos maiores players do mercado financeiro no Brasil, da publicação de uma pesquisa eleitoral que apontava a consolidação da liderança do ex-presidente Lula nas eleições desse ano, nos faz voltar a um tema que está no ar desde que o mercado aderiu, entusiasmadamente em 2018, à candidatura Jair Bolsonaro, um candidato que não era democrático e nem ao menos liberal. Sabemos hoje que as inclinações antigas do ex-capitão conseguiram prevalecer em relação ao suposto representante do liberalismo no governo, o ministro Paulo Guedes, que não passa de um liberal típico latinoamericano, aquele que confunde liberalismo com privatismo e conservadorismo com autoritarismo.


Uma parte da nossa imprensa – decepcionada não com as atitudes autoritárias do presidente ou com os seus ataques à democracia, mas com o seu comportamento errático na economia – adotou um rótulo que está na moda na Europa e começou a chamar o ex-capitão de presidente iliberal. Vale a pena enumerar o conjunto de equívocos presentes nesse rótulo. O primeiro deles deve-se ao fato de o conceito ou pseudoconceito ter sido usado pela primeira vez pelo primeiro-ministro da Hungria, Victor Orban, em um discurso em uma universidade húngara no verão de 2014.[1] Ali, ele afirmou “que a nação húngara não constitui uma simples soma de indivíduos, mas uma comunidade, reforçada e desenvolvida, e nesse sentido o novo estado que estamos construindo é um estado iliberal”.[2]


É raro, mas não impossível, a apropriação de um conceito com um significado inverso ao pretendido pelo autor, mas foi o que ocorreu com a ampla apropriação do conceito de estado iliberal, ou iliberalismo, na América Latina. Cabe nos perguntarmos por que. Tenho uma resposta que remete à censura da pesquisa Ipespe pela XP, que se disse pressionada por grandes investidores do agronegócio. Atos ainda mais questionáveis – tais como o apoio generalizado dos atores econômicos no pós-impeachment a um programa que não havia sido eleito nas urnas e, mais recentemente, o apoio do mercado a uma política de equiparação dos preços do petróleo aos preços internacionais –, sob o argumento da manutenção das reformas liberais (sic), complementam os traços da atitude do empresariado brasileiro na conjuntura nacional. Irei elaborar cada um dos elementos a seguir (continue a leitura).


(*) Lunpen: o conceito designa uma categoria social identificada pelo marxismo como um conjunto localizado abaixo do proletariado em condições de vida bastante precárias razão, possivelmente, para seu distanciamento político e ideológico  em relação com os trabalhadores organizados. No sentido aplicado por Avritzer em seu artigo, o termo lunpen parece definir o descompromisso da burguesia brasileira com os pressupostos doutrinários que diz defender. O pensamento liberal por aqui não é mais do que um eufemismo para proteger priviégios no âmbito de soluções políticas de caráter autoritário (leia na Wikipedia).


Leia também: * Para psicanalista, Bolsonaro tem mente paranoide e agrega em torno de si o pior do Brasil (entrevista com Christian Dunker na RBA)

domingo, 12 de junho de 2022

Por que Lula?

Esse enraizamento popular profundo de Lula é uma matriz
construída pelas demandas da Justiça Social e da Democracia. 
Não há farda nem capital nem mentira nem conspiração
que o destrua(m)

Nos braços do povo

Nas imagens ao lado, dois registros históricos da popularidade de Lula. Na foto de cima, em meio ao mandato como presidente da República; na de baixo, carregado pela multidão,  Lula deixa a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para ser confinado à prisão, depois da covarde sentença do ex-juiz Sergio Moro.

Na antologia de notícias desta postagem, fragmentos da triste realidade que as elites, capitaneadas pelo bandido Bolsonaro, deixam para trás. Vão pagar caro por isso...

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Um dia para comemorar

Em pânico, Bolsonaro atira para todo lado

Bolsonaro e seus cúmplices de toga, de farda e de terno e gravata amargaram ontem uma saraivada histórica de derrotas. A reação foi o destempero e, ao que tudo indica, a confusão mental dessa turma. Mas convém não baixar a guarda na resistência democrática porque vem por aí mais ataques à democracia e às eleições

Atualização: em menos de 24 horas, o cenário político se alterou rapidamente e não é exagero supor que o esgarçamento institucional e o isolamento desse marginal chamado Bolsonaro pode levar a uma ruptura institucional dramática. Os dados estão nessa antologia abaixo na qual procuro registrar os sintomas de descontrole que explicam o ataque de fúria de ontem:

O país mais miserável do mundo

sexta-feira, 27 de maio de 2022

Instintos selvagens.

 Crimes de Estado

Sociabilidade milico-bolsonarista faz Brasil retroceder à idade das trevas. Nem Kubrick imaginaria nada igual ao que o mundo testemunhou ontem na nossa terra.

Marina Amaral
Diretora Executiva, Pública

As cenas do assassinato por asfixia de Genivaldo de Jesus Santos por policiais rodoviários federais em Umbaúba, Sergipe, nos esbofeteiam enquanto ainda vivemos o choque da chacina na Vila Cruzeiro, zona Norte do Rio de Janeiro, em que 26 pessoas foram mortas em uma operação policial na quarta-feira passada. MPF e MPRJ abriram investigações para apurar mais uma chacina sob o governo Cláudio Castro, aliado de Bolsonaro: foram 39, com 178 mortes em apenas um ano de gestão. Isso, apesar de uma ordem do STF que restringiu operações policiais em comunidades no Rio durante a pandemia.

Já o vídeo que registra o crime que matou Genivaldo ontem em Sergipe desnuda a crueldade estúpida de agentes da Polícia Rodoviária Federal desde o momento em que o homem de 38 anos obedece à ordem dos policiais para que pare a moto e desça. Genivaldo mantém as mãos na cabeça quando é revistado e só perde a paciência quando xingado pelos policiais. Tenta então se desvencilhar. É agarrado e imobilizado no chão pela perna de um agente federal em seu pescoço. Com pés e mãos amarrados é jogado no porta-malas da viatura. Os agentes batem a porta do bagageiro contra suas pernas, que ficam de fora do porta-malas, enquanto o asfixiam com gás até a morte. 

nota da Polícia Rodoviária sobre o caso não deixa dúvidas de que os agentes criminosos contam com a cumplicidade da corporação. Mente descaradamente ao dizer que “foram usadas técnicas de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo” para conter Genivaldo e ao afirmar que “durante o deslocamento, o abordado veio a passar mal e foi socorrido de imediato”. Ouvimos os gritos de Genivaldo ao ser sufocado na viatura. 

O presidente Jair Bolsonaro, que já havia comemorado a chacina da Vila Cruzeiro, parabenizando no Twitter o Bope, a PM, a PF e, vejam só, a Polícia Rodoviária Federal, que também participou da operação no Rio, desta vez só falou sobre o caso quando perguntado pela imprensa. “Vou me inteirar com a PRF”, disse, como se houvesse dúvida do que aconteceu. 

O presidente tem um carinho especial pela PRF, subordinada ao Ministério da Justiça e dirigida por um amigo de seu filho Flávio, o policial Silvinei Vasques. Vasques responde a oito processos disciplinares desconhecidos do público porque foram colocados sob sigilo por 100 anos pela corporação. Só se sabe o teor de um deles, em que foi condenado pela Justiça Federal de Santa Catarina por ter agredido um frentista com socos depois de o funcionário do posto se recusar a limpar o interior de uma viatura da PRF. A condenação não impediu que ele fosse indicado para o comando da corporação e ainda agraciado com a medalha do mérito indigenista pelo presidente na cerimônia farsesca de março passado. 

Além da compra de armas e da promessa de reestruturar a carreira para equipará-la à Polícia Federal, o governo Bolsonaro concedeu poderes especiais à Polícia Rodoviária. Um decreto do MJ de janeiro de 2021 retirou a condição de que “os crimes objetos de apuração tenham sido praticados em rodovias federais, estradas federais ou em áreas de interesse da União” para que a PRF possa participar de operações policiais como a da Vila Cruzeiro. Três meses antes, aliás, a PRF já tinha atuado no mesmo local, em conjunto com o Bope, daquela vez matando 8 pessoas. 

O procurador Eduardo Benones, do núcleo de controle externo da atividade policial no Rio de Janeiro, discorda de que a PRF possa atuar para além de suas atribuições. Segundo ele, a participação de policiais rodoviários pode ser considerada um desvio de função constitucional claramente estabelecida no artigo 144, ou seja, “o patrulhamento ostensivo das rodovias federais”. Quer explicações. 

Vamos ver se consegue algo mais consistente do que a nota da PRF, que mais uma vez surpreende. Segundo a corporação, sua participação na operação da Vila Cruzeiro se justifica por crimes que teriam sido cometidos recentemente pelo Comando Vermelho contra agentes de segurança pública no Pará e que estariam escondidos no local. Não explica por que seria sua atribuição perseguir supostas lideranças criminosas de outro estado em operação policial oficialmente destinada a combater o tráfico de drogas no Rio. 

Nove dias antes do assassinato de Genivaldo, em 17 de maio, o presidente esteve em Sergipe, na cidade de Propriá, a cerca de duas horas de Umbaúba. A PRF fazia a segurança do presidente e foi por ele saudada em seu discurso. Ontem, ao comentar o assassinato sem motivo de Genivaldo, o presidente também tentou justificar de antemão a violência da PRF em Sergipe, lembrando o assassinato de dois policiais rodoviários há duas semanas no Ceará por um suposto morador de rua. 

Ao que tudo indica, só é possível entender o crime contra Genivaldo e a chacina no Rio juntando as palavras “vingança” e “grupos de extermínio” à atuação das forças de segurança, cada vez mais corrompidas pelo governo Bolsonaro, contra os pretos e pobres do Brasil.